Não basta ter valores
Os nossos valores fundamentam e estruturam boa parte da nossa vida, desde os comportamentos quotidianos, até às grandes decisões que tomamos e que nos definem.
Mas nem todos os valores são bons, nem todos valem o mesmo, nem, sobretudo, todos são entendidos e aplicados da melhor forma.
Uma proposta já clássica, propõe a divisão dos valores em sãos e não sãos; saudáveis ou não saudáveis, referindo-os a um conceito de saúde global que supõe o equilíbrio psicobiológico do indivíduo.
Assim, não basta saber se os valores que perfilhamos são positivos; interessa mais saber como os vivemos e como os aplicamos na nossa vida.
Neste sentido, os mesmos valores, tidos universalmente como bons, podem ser vividos de forma saudável ou não.
A forma sã de viver os valores implica flexibilidade, no sentido de lhes reconhecer excepções e graus. Implica fazer seus os valores de forma crítica, filtrando-os e assumindo-os depois. Têm de ser realistas, baseados na ponderação das consequências. E têm de ser fomentadores da vida, com o reconhecimento das suas necessidades e sentimentos.
Por outro lado, uma forma pouco saudável de viver e aplicar os valores, por bons que possam ser, pode enfermar de outros tantos defeitos: podem padecer de rigidez, absolutizando o valor numa lógica de tudo ou nada; podem ser interiorizados passivamente, sem os perceber nem criticar; podem não ser realistas, baseados apenas num conceito abstracto de "rectitude" que esmaga; e podem ser, finalmente, redutores da vida, ignorando as suas necessidades e sentimentos.
Cá no nosso âmbito (Igreja) fala-se muito de valores. Mas incorre-se muitas vezes numa visão rígida, numa interiorização passiva e numa aplicação irrealista. É claro que tem de dar para o torto...