Perplexidades
Com tristeza, vou assistindo aos sinais de outros tempos que a minha Igreja insiste em mandar cá para fora.
O problema não está em ser duro e claro quando há que sê-lo. Não há drama na firmeza, quando ela se justifica. E dou de barato que, falar de Roma para o mundo, não pode agradar a todos. Outra questão seria saber até que ponto Roma tem de falar de tudo, para todos...
Mas acho estranho que os sinais negativos e carregados de hostilidade se sucedam, sem que outros, de sinal contrário, equilibrem as coisas. Será só ausência de simples estratégia comunicativa? Porque insiste o Vaticano em aumentar a péssima imagem pública que já tem? Porque insiste em querer "apanhar moscas com vinagre"?
Vejo, perplexo, ingerências nas lutas políticas europeias, a começar pela italiana, tentando impôr a todos concepções cristãs da vida e da moral.
Leio, com surpresa, recomendações de "moderação nos abraços", como se as nossas Eucaristias fossem festarolas de efusiva emotividade primária, quando, afinal, um dos problemas é, precisamente, a frieza litúrgica e o afastamento entre a celebração sacramental e a vida.
Vejo, preocupado, aumentar a lista dos teólogos proscritos, por se atreverem a pregar o Evangelho em que acreditam. Já cruzámos a barreira dos 450, desde o início do pontificado de João Paulo II e, parece, continuaremos a bom ritmo... Jon Sobrino é apenas mais um.
E depois leio, estupefacto, sobre a legítima preocupação dos bispos espanhóis pela crise de vocações. Preocupados porque, na última década, houve uma diminuição superior a 30% no número de seminaristas. Admira a surpresa, porque em termos gerais, no mesmo periodo, a Igreja espanhola perdeu 50% da juventude e tornou-se na Instituição em que os jovens menos confiam... E falar de Espanha, é falar de muitos outros países em situação semelhante, incluindo o nosso.
Não sei para onde vamos mas, como escrevia o poeta, eu sei que não vou por aqui.
28 comentários:
Pode dar-se o caso da moderação nos abraços não ser um apelo especificamente dirigido às celebrações europeias mas sim às africanas ou latino-americanas.
Quanto aos teologos proscritos é um dever do Papa e do episcopado em geral discernir e ensinar ao povo cristão aquilo que é conforme à doutrina cristã e aquilo que não é.
Depois do concilio Vaticano II apareceram muitas aberrações teologicas que lançaram confusão entre os fieis, era necessário clarificar aquilo que podia ser ensinado como sendo cristão e aquilo que não podia.
António Maria
Pronto, bom dia:
"Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!"
(José Régio;)
Abraço
António Maria,
Quanto às celebrações, é provável que seja isso mesmo que acontece. Mas como o documento é destinado a toda a Igreja, sem qualquer ressalva, cada comunidade o deve ler como sendo-lhe destinado. Ou não?
Quanto aos teólogos:certamente que reconheço à Igreja a autoridade para proclamar o que entende ser a interpretação fiel das EScrituras e da Revelação. Outra coisa, bem distinta, é que castigue teólogos que dedicaram a sua vida num honesto trabalho de inculturação do Evangelho. Não estamos a falar de perigosos herejes, pois não?
Vitor,
Bom dia!
Tens um dom para descobrir o verso certo! :)
Abraço
Certamente que os contacto do Papa com as igrejas locais não se resumem aos documentos oficiais. Atraves desses contactos certamente consegue comunicar melhor o que se prentende de cada igreja local. Quando faz uma homilia certamente tambem não especifica o que espera de cada paroquiano, fala de forma generica.
Por muito honesto que se queira ser ao ser-se original correm-se riscos. O mundo universitario é um mundo que promove a originalidade. Por cada ideia original boa devem existir umas dezenas que não prestam. No trabalho de inculturação certamente que se cometem muitos erros. É dever do Papa e dos bispos discernir entre aquilo que é aceitavel e aquilo que não o é.
António Maria
Caro Manel
Passei por aqui e resolvi escrever umas palavras.Percebo o que quer dizer, alguma precupação com a última exortação papal...Entendo também a preocupação com os teólogos.Mas há obviamente, coisas boas...reparou, por acaso, que o Papa Bento XVI recebeu o teólogo Hans Kung, o qual nunca foi recebido pelo Papa João Paulo II? Uma conversa de 4 horas , em Castelgondolfo, não uma audiência qualquer!
É um sinal! Dos bons!
Um abraço
Em verdade, emverdade te digo: esta não é a minha Igreja.
Cara Mafalda,
Claro que há coisas boas! Muitas e diversas. Não tenho disso qualquer dúvida! :)
Quanto à audiência com Hans Küng, só posso dizer que achei positiva a sua realização. Mais não posso comentar... porque não sei.
Abraço
Jesus (?!)
Pois... :)
Abraço
Manuel, se concorda com aquela afirmação só tem uma atitude a tomar. Deixar de ser sacerdote e sair da igreja. Ninguem faz nenhum favor à igreja por pertencer à Igreja.
Anónimo das 21.26,
Não sei bem a que afirmação se refere. Mas digo-lhe duas coisitas:
1. Isso de entrar em casa dos outros a largar bocas anónimas soa-me a cobardia.
2. Não posso nem quero "sair da Igreja". Primeiro porque nesta Igreja, além de algumas coisas criticáveis, há muitas outras de inestimável valor. E, em segundo lugar (e sobretudo), não posso saír do que eu próprio sou. Porque eu também sou Igreja. Essa visão da Igreja como uma organização ou empresa de que se entra ou se sai tem pouco a ver com a Igreja de Cristo em que acredito.
Volte sempre... mas apresente-se.
Não acreditas em milagres? Os de Emaús só ao partir do pão viram o que os seus olhos não viram no caminho. Ao casmurro do Tomé tive mesmo de lhe pegar na mão e só vendo me reconheceu. Eu estou onde estiver um Homem.
Quanto ao Anónimo das 21.26 lembra-te que se atirarão a ti, injuriar-te-ão e lançar-te-ão pedras no caminho. Em verdade em verdade te digo e já to havia dito há muitos séculos: aquele que trilha os caminhos de meu pai ficará com bolhas e feridas nos pés pois não são fáceis os caminhos que a Ele levam. É sinal que estás no caminho certo e como dizia o poeta, o caminho faz-se andando...
Há, todavia, uma segunda hipótese: o Anónimo das 21.26 é uma anónima que acha que darias um excelente marido...
Caro Padre Manuel, se o anonimato é sinonimo de cobardia então devo inferir que é essa a razão pela qual fez um blog no qual não assume a sua identidade?
É que este blog tem um autor anónimo.
A Igreja não é apenas nem sequer essencialmente uma organização mas tambem é organização, organismo. É diferente ser-se cristão ou muçulmano, católico ou baptista. Se considera que a Igreja Católica não é a Igreja de Jesus então tenha a coragem de assumir um comportamento coerente com essa convicção, saía, ninguem faz nenhum favor à Igreja ao assumir-se como católico.
Tenha a coragem que não tem ao não assumir com o nome próprio a autoria do blog.
Isto de criticar alguem por fazer um comentario anónimo e criar e manter todo um blog anónimo é profundamente hipocrita. Tenha a coragem e diga quem é, nome completo. Depois disso reconheço-lhe autoridade moral para me acusar de cobardia por fazer um comentário anónimo.
Anónimo das 21.26
Oh caro anónimo!
Agora desconcertou-me!!! :)
Pelos vistos, as nossas divergências começam logo na definição de anonimato. É que este blogue tem autor identificado, logo no princípio do mesmo. Bem à vista. Com o nome por que sou conhecido desde a minha pequenês, correspondente ao nome próprio e apelido paterno...
É, o senhor é o padre Manuel Anónimo. Qualquer um sabe quem o senhor é, aonde mora e que cargos desempenha. Basta ir ao anuário católico para ver quem é o Padre Manuel Anónimo.
Anónimo das 21.26
É, o senhor é o padre Manuel Anónimo. Qualquer um sabe quem o senhor é, aonde mora e que cargos desempenha. Basta ir ao anuário católico para ver quem é o Padre Manuel Anónimo.
Anónimo das 21.26
Não sei se ria ou me chateie...
Não sou o padre Manuel Anónimo... Sou o Padre Manuel Vieira. Devidamente identificado.
E não preciso de lhe contar a história da minha vida, nem os cargos que ocupo para poder escrever o que bem entendo no meu blogue.
Esta agora!!!...
Então o padre Manuel Vieira continua a pertencer à igreja católica apesar de considerar que esta não é a Igreja de Cristo. Talvez a igreja de Cristo seja uma meta-igreja acima de todas as denominações, talvez pertença à igreja catolica com a mesma convicção que pertenceria à igreja baptista se tivesse nascido numa familia baptista.
O anónimo das não sei quantas.
bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbb
Caríssimo anónimo:
É altamente provável que o meu amigo se tivesse nascido na Suécia fosse cristão reformado; "anti-papista", se nascido numa família "lealista" de Belfast; muçulmano se numa família paquistanesa típica - e por aí fora.
Quanto ao dever de a Igreja ensinar a Verdade: Sim, sem dúvida. Mas ensinar a verdade é uma coisa - inventá-la "de toutes pièces" outra.
Quando eu nasci, há cinquenta e seis aninhos, a metade judia da minha família era - na mais pura doutrina católica - composta de deicidas e as calamidades que lhes sucediam o justo castigo que mereciam; a liberdade de consciência e de religião era - na mais pura doutrina católica - um erro abominável; a democracia e os direitos humanos eram - na mais pura doutrina católica - outro erro abominável; e por aí fora.
Conhece o meu amigo o Syllabus? Faz ideia o meu amigo da quantidade assustadora de disparates que fizeram parte da doutrina da Igreja?
Sabe o meu amigo que uma das coisas que o homem de hoje menos suporta na Igreja é a arrogância moral da parte de quem tanto errou e pecou?
Mande sempre!
( Manel: Depois digo-te de Timor. Mas, só para teres uma ideia, as presidenciais são daqui a cinco dias e o Ramos Horta propôs, se for eleito, orçamentar no OGE 10 milhões de dólares para a Igreja Católica. Pensas que esta disse que não? Desengana-te: lambeu as beiças. Beijinhos. )
ZR
Desengana-te: lambeu as beiças. Beijinhos. )
ZR
" É preciso ser-se ordinário para dizer as coisas?
Acaso o meu amigo sabe a obra que em Timor a Igreja tem feito?"
Paulo Lage Raposo
M-O-Novo
Ainda mais caro anónimo ( pois que deixou de o ser ):
1)"lambeu as beiças" não é - na minha sensibilidader - ordinário; e, por um lado, descreve na perfeição a atitude lambareira da Igreja; enquanto, por outro, tem antecedentes bíblicos, que o meu amigo decerto não ignora.
2) Claro que conheço a acção da Igreja Católica em Timor, pelos menos nos últimos trinta anos. Em particular, a sua participação na Resistência e a acção educativa e social.
Nada disso justifica os seus erros: o Estado não deve financiar Igrejas; o Estado não deve financiar aulas de catequese; os métodos não abortivos de controlo de natalidade devem ser oferecidos pelo Estado aos cidadãos, para escolha por estes segundo a sua consciência; e por aí fora.
Estas são verdades muito simples e evidentes, que fazem parte do património "cívico" comum de grande parte da humanidade; e que, estou convicto, se espalharão cada vez mais.
É tempo de a Igreja - de uma vez por todas - perder a nostalgia dos tempos passados, em que dispunha do braço secular. É tempo de a Igreja - de uma vez por todas - acabar com o adultério com o Estado.
3) De resto, podíamos continuar a conversar sobre a Igreja em Timor.
A minha admiração pelos padres ( muitos deles já então entrados em idade ) que souberam nos anos terríveis da ocupação indonésia estar junto das suas ovelhas e aumentar o rebanho ( 30% dos timorenses eram cristãos em 1975; hoje, 90% ).
A identificação do "aggiornamento" conciliar com a Igreja católica na Indonésia, e consequente rejeição, dando origem a uma Igreja profundamente reacionária e intolerante.
As igrejas a transbordar ( literalmente ) e a participação macissa na comunhão.
A minha comunhão, o que me torna, segundo a doutrina da Igreja, réu de um crime terrível ... Bem vê o amigo: este é um caso em que a desconfiança no acusador só é superada pela absoluta confiança no Juiz.
Uma vez mais: mande sempre notícias. Mas, aqui, o acesso à net é errático e pode ser que demore semanas a responder.
Beijinhos.
ZR.
"Ainda mais caro anónimo ( pois que deixou de o ser )":
Ainda mais, em Timor precisa-se muito de voluntários, pois no campo da educação e da saúde se não fosse as diversas congregações que por lá andam perdidas no interior para ajudar o próximo a desgraça ainda era maior. Eu estive lá. Faça também essa experiência e depois comente.
Não sou nem nunca fui anónimo. Se escrevo assino. Deve o meu amigo estar a referir-se a outra pessoa.
Paulo Lage Raposo
Herd da Ameira
Montemor O Novo
Mas, meu caro, 'tou precisamente a fazê-la: sou não só cooperante da FUP, como voluntário na UNTL; e aproveito uns tempinhos livres para ensinar a fazer queijo com leite de búfalo ( quer dizer - búfala; o de búfalo não serve para tal ) a umas irmãs em Los Palos.
O que eu não percebo é porque é que são precisas estas "credenciais" para poderem ser avaliadas pelo meu amigo as minhas críticas pelo seu valor intrínseco ...
Re-beijinhos,
ZR.
Meu caro ZR.
Posivelmente fui eu que tirei mal a fotografia quando estive em Timor.
Não tenho por hábito dizer mal dos outros.
O que tenho a dizer digo-o olhos nos olhos.
Não me refúgio no anonimato.
Por outro lado tenho um grande defeito, sou demasiado directo e talvez duro. O que é mau.
No entanto os Evangelhos são muito duros, pragmáticos e muitas vezes a Palavra é fraturante.
S. Paulo era fogo.
Pede-nos a entrega até às últimas consequências, não para ficar no adro.
Já estou arrependido de ter escrito neste blogue.
Paulo Lage Raposo
Herd. da Ameira
266 898 248
plraposo@oninet.pt
M-O-Novo
Hoje, sábado de Aleluia, duas interessantes notícias:
1) Em entrevista, o Senhor Arcebispo de Liège declara que os gays são anormais e que os preservativos têm buraquinhos por onde passa o HIV.
2) Na Dieta polaca, prepara-se a aprovação ( com o acordo da Igreja ) de uma lei que barra a actividade docente aos homossexuais "praticantes".
Toma, Zé Ribeiro: anormal, mentiroso e candidato ao desemprego.
Por mim, já deixei de preocupar-me com a Igreja - a não ser para esquivar-me às suas mordidelas.
Abençoado laicismo, que lhe limou os dentes.
Beijinhos,
ZR.
Zé,
Tenho estado fora, sem acesso à internet. Por isso não tenho respondido aos comentários que fizeste.
Cá fico à espera das novidades.
Bom trabalho em Timor.
Abraço
Desconsertante.
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