segunda-feira, 16 de abril de 2007

O futuro da formação

À hora em que escrevo, inicia-se em Fátima mais uma Assembléia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa.
Na agenda parece estar a reflexão sobre a formação dos padres em Portugal. Não sei, naturalmente, qual vai ser a linha dessa reflexão. Muito menos quais vão ser as directrizes para a futura estruturação dessa formação.
Mas sei, como sabem todos os que se formaram nos seminários diocesanos e, mesmo que não o tenham feito, que conheçam minimamente o esquema formativo actualmente em vigor, que a "coisa" não vai lá com remendos. O modelo herdeiro de Trento não está apenas desfasado; está em coma.
Parece-me haver um desencontro acentuado entre o perfil de padre que as comunidades cristãs desejam e precisam e o "formato" oferecido pelas "linhas de produção eclesiásticas". Isto tem duas consequências imediatas: em primeiro lugar, os cristãos têm muita dificuldade em encontrar nos sacerdotes as qualidades que, de facto procuram e necessitam; em segundo lugar, os próprios presbíteros recém ordenados se vêem confrontados com a necessidade de deixar caír grande parte do "lastro formativo" para irem aprendendo quase tudo por sua conta.
Resta dizer que, atendendo aos constrangimentos estruturais que enquadram esta questão, pouca margem de manobra sobra para grandes mudanças na formação nacional dos novos padres, mesmo que os senhores bispos o quisessem. Não virão aí, portanto, grandes novidades.

5 comentários:

Anónimo disse...

Olá Manel

"O Cristianismo seria uma maldição se não fosse a filosofia grega e a disciplina ou a ordem do império romano " Há quem comente isto.
1 - Será que este Papa está a lançar a base de uma nova filosofia para libertar a Igreja, de vez, da fil. grega? (o amor gratuito de Deus). "JP II: Do caração trespassado de Jesus nascerá a civilização do amor."
2 - Com evolução a que estamos a assistir, será que a Igreja vai deixar de se identificar com um território, para se dissiminar entre todos e todo o mundo.?
ao estilo de S. Francisco.

Que achas?
PLR
Ameira

Vítor Mácula disse...

Olá, Manel, bom dia.

Pois, e há uns que tentam compensar a coisa indo estudar psicologia… :) Mas a que te referes com « constrangimentos estruturais » ?... Peso logístico e administrativo ?...

E nem Trento nem os conceitos helénicos estão em coma… ou melhor, quando e onde o estiverem, é porque se desligam do fluxo da vida com que não os confrontamos (nomeadamente com a psicologia moderna ;) e não porque sejam vazios de sentido, ou pior ainda, errados.

Luis Buñuel, penso que aquando da saída do « Viridiana » : « Espero que o meu filme seja verdadeira vanguarda, isto é, tradição » ;)

Abraço

PS: Isso significa que não é a fixidez dos enunciados que está em jogo, mas a sua dinâmica.

Manuel disse...

Caro Vítor,

Quando me refiro aos "constrangimentos estruturais" quero apenas dizer que, à partida, a margem de manobra dos bispos portugueses está limitada pelas orientações gerais da Igreja sobre a matéria, emanadas de Roma, além de ser um assunto espartilhado por outros que o condicionam: concepção de ministério ordenado, sua relação com uma visão piramidal de Igreja, etc... para não falar de coisas mais "comezinhas" como a centralidade do celibato obrigatório na dita formação.

Não defendi, de forma nenhuma, um corte radical com a tradição. Não há vanguarda sem história. Apenas quis evidenciar o que julgo ser um problema a precisar de uma reestruturação. E não tenho sequer a pretensão de ter grandes receitas. E bem sei que os bispos não têm soluções mágicas para apresentar...

Abraço

Vítor Mácula disse...

Mas claro, Manel, e eu também não vim defender nem atacar nada… Estava trocando impressões e divagações (Ah, o “Viridiana”, o primeiro filme do Buñuel que eu vi…) Ou não… E isso faz-me pensar no hábito católico de mal se abre a boca se estar a tentar aferir quem é que está na razão católica e quem não está… Ainda acabamos a policiar-nos todos uns aos outros, raios, como tantas vezes acontece na humanidade… (E vê lá, também não estou a dizer que o estás a fazer, hem?... ;) Sei histórica e pessoalmente que este é um dos grandes riscos do cristianismo, para nos atermos a ele.

Aliás, como podes calcular (quero dizer, do que já net-dialogámos) sei muito pouco acerca dos seminários, sobretudo os menores… Não sei muito bem o que ensinam por lá… Sei que já vários padres me disseram que tiveram de se formar de outro modo, digamos assim, para a prática do seu ministério (que para além de ser com conceitos e sacramentos, é também com pessoas ;)… Outros não…

P.e Júlio da Costa Gomes disse...

Isto tem de dar uma grande volta. Falo pela minha experiência pessoal de semina e pelo que vejo dos meus amigos que já são padres. Primeiramente acho que os Srs Bispos não conhecem metade daquilo que se passa nos seminários. Idealizam uma formação como se se tratasse de encaixar essa formação para pessoas todas iguais. Mas, na verdade somos muito diferentes uns dos outros. Segundo, acho que a teologia deve dar um volte face no que respeita à leccionação. Anda muito fraquinho isso. Mas o mais lógico será começar pelo principio e perguntar que padres para este tempo, para a realidade que se depara e não que seminaristas. O fosso entre o seminário actual e o primeiro ano de padre é abismal. A preparação (formação) não devia cuidar disso? Existe uma resposta alentejana que sintetisa tudo isto. Isto é que vai uma açorda!