O pecado e o pecador
A distinção, clássica e omnipresente na doutrina da Igreja, entre o pecado e o pecador, tem servido de fundamento a muito moralismo barato.
Todos percebemos a ideia subjacente: a pessoa é sempre digna de respeito; o pecado por ela cometido, não. Seriamos, portanto, chamados a amar o pecador e a rejeitar o pecado.
Isto dito assim, até faz sentido. Mas a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz.
Lembro-me de um padre que costumava dizer com frequência: "Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser!" E dizia-o inchado, como se tivesse descoberto a mais fiel das interpretações do evangelho. O que ele revelava, coitado, é que não amava ninguém.
Daquilo que me é dado perceber do Evangelho, o desafio cristão - e a sua originalidade - é o amor incondicional. E se é incondicional, não exige ao outro a renúncia ao pecado. Isto parece perigoso à primeira vista. Mas não é. É "apenas" evangélico. O nosso erro, consciente ou não, está em acharmos que temos um papel a desempenhar na relação entre o pecador e o pecado. Consideramos ser nosso "dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão...
Ora, não é isto que Jesus faz. Jesus AMA. E o pecador decide, em liberdade, o que quer e/ou pode fazer em relação ao pecado. E qualquer que seja a decisão dele, que faz o Meste? Ama-o, pois claro. Incondicionalmente.
Outra coisa bem distinta é que eu, tocado pelo amor, perceba o pecado como algo a abandonar. Mas esse é o meu caminho.
Todos percebemos a ideia subjacente: a pessoa é sempre digna de respeito; o pecado por ela cometido, não. Seriamos, portanto, chamados a amar o pecador e a rejeitar o pecado.
Isto dito assim, até faz sentido. Mas a praxis daqui decorrente cai, inevitavelmente, num cinismo atroz.
Lembro-me de um padre que costumava dizer com frequência: "Eu não amo as pessoas pelo que elas são, mas pelo que devem ser!" E dizia-o inchado, como se tivesse descoberto a mais fiel das interpretações do evangelho. O que ele revelava, coitado, é que não amava ninguém.
Daquilo que me é dado perceber do Evangelho, o desafio cristão - e a sua originalidade - é o amor incondicional. E se é incondicional, não exige ao outro a renúncia ao pecado. Isto parece perigoso à primeira vista. Mas não é. É "apenas" evangélico. O nosso erro, consciente ou não, está em acharmos que temos um papel a desempenhar na relação entre o pecador e o pecado. Consideramos ser nosso "dever" metermo-nos lá no meio, mediadores e "activadores" da conversão...
Ora, não é isto que Jesus faz. Jesus AMA. E o pecador decide, em liberdade, o que quer e/ou pode fazer em relação ao pecado. E qualquer que seja a decisão dele, que faz o Meste? Ama-o, pois claro. Incondicionalmente.
Outra coisa bem distinta é que eu, tocado pelo amor, perceba o pecado como algo a abandonar. Mas esse é o meu caminho.
Amar o pecador, incondicionalmente, é amá-lo com pecado e tudo. Pôr como condição a sua renúncia ao pecado, não é amá-lo; é chantageá-lo. Ou desculpa de mau pagador para justificar arzinhos de superioridade...
26 comentários:
Obrigada, Manel! :)
Uma reflexão evangélica, sem dúvida.
Beijos
Brilhante. Simplesmente brilhante.
Quando se usa a palavra "condenar" para o pecado parece-me que se perde de vista o que deve ser o nosso objectivo. No centro das nossas considerações deve estar a pessoa, não o pecado. Deste ponto de vista, o pecado deve ser olhado como algo que prejudica as pessoas, as prende, as menoriza. E por conseguinte, se amamos as pessoas, não queremos que estas pequem. Mas a centralidade deve ser colocada nas pessoas, não no pecado. O que acontece muitas vezes é que ao condenar o pecado, o colocamos no centro das preocupações. E as pessoas, essas, são uma espécie de dano colateral.
Meus deus, Manel, cuidado, cuidado, que assim vais no caminho de Cristo... ;) (Frase para sorrir, mas também tendo o seu quê de sério enquanto aviso...)
Brilhante comentário do /me
Vénia e abraço, e bom fim de semana
Admirável!
Tens um condão especial para anunciar a Boa Nova!
Obrigado.
Com todos os pecados que tenho, vejo-me retratado no que escreves.
Mais uma vez obrigado!
Concordo, obviamente, com a reflexão, sobretudo no amor incondicional.
No entanto, julgo eu, teremos sempre um "papel" a desempenhar, não no sentido de "pôr como condição a sua renúncia ao pecado", mas ajudar, avisar, ao outro e a nós próprios da existência do pecado e da necessidade dele nos afastarmos.
Jesus disse à mulher adúltera: «Também eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» Jo 8,11, ou seja, não colocou condições para o Seu amor à mulher, mas não deixou de a alertar, ou de lhe chamar a atenção: «não tornes a pecar.»
Abraço em Cristo
Eu, pecador, me confesso...
Amigo mío, amar es amar a la persona tal como es. Toda persona es digna porque es hija de Dios. Amamos de veras cuando amamos los defectos de otra persona.
Permíteme un pequeño matiz: amar es querer lo mejor para quian amamos. Es decir, queremos que sea mejor. Y caminamos con él. Respetando su libertad. Así se comporta nuestro Dios.
Jesús le dice a la adúltera, mirándola con inmensa ternura: ¿Nadie te ha condenado? Yo tampoco... pero no peques más.
Un fortísimo abrazo.
Concordo em absoluto com a novidade evangélica da gratuidade do amor que é, ao mesmo tempo, incondicional. A nós talvez possa aber opapel que S. Paulo desempenha na segunda leitura: testemunhar o entusiasmo por tentar seguir a a Cristo e à novidade dos caminhos que propõe.
Um abraço
João Maria
MC,
Obrigado. Também pela referência lá no teu jardim!
Beijo
/me,
Plenamente de acordo.
Gostei da imagem dos "danos colaterais"... :)
Abraço
Vítor,
Obrigado pelo aviso. :)
Mas não deve haver "perigo" imediato... o caminho está quase todo por fazer... :) (infelizmente!)
Abraço
Migalhas,
Obrigado pelas tuas palavras.
Mas não agradeças: não há mérito nestas partilhas; só caminho pela frente...:)
Abraço
Joaquim,
Claro que entendo o que dizes. Mas a decisão e o processo de conversão será sempre da mulher... sem penalizações, nem ultimatos.
Abraço
Caminante,
Gracias por tu comentário.
Creo que lo que he dicho a Joaquim, puede servir de contestación a lo que dices.
Fuerte abrazo
João Maria,
Quem se sente tocado pelo amor, nunca fica igual. Paulo fala desse seu caminho pessoal, sequência do sentir-se amado, com um entusiasmo fantástico. Esse é o "milagre" que opera a conversão pessoal. :)
Abraço
Alô, Manel.
Ora, Ele próprio avisou do perigo constante… Amar é padecer do e com o outro… Objectivar e julgar retira a implicação subjectiva e relacional que lhe doa sentido amoroso, com-paixão… O amor é um retorno constante ao concreto… Não se trata evidentemente de anular juízos e conceitos... Mas de utilizá-los sem servi-los nem idolatrá-los, sem subsumir neles a realidade, nomeadamente a humana, integral (incluindo a pessoa de Deus;)... O “farisaísmo” está sempre à coca, por dentro e por fora de nós…
Abraço
PS: Que raio… Bom dia ;)
“Terrível é o homem em quem o senhor
desmaiou o olhar furtivo das searas
ou reclinou a cabeça
ou aquele disposto a virar decisivamente a esquina
Não há conspiração de folhas que recolha
a sua despedida. Nem ombro para o seu ombro
quando caminha pela tarde acima.”
(Ruy Belo)
Deus nosso Senhor não quis saber dos pecados. Preocupou-se sim, com os pecadores. Criou-nos livres. Deu-nos a maravilhosa possibilidade de sermos nós a decidir. Bem ou mal, a opção é nossa. Ele está sempre lá, a tentar, através da sua Luz que nós entendamos o caminho, que esses desencontros com Ele deixem de existir….Ele deixa tudo em aberto…cabe-nos saber fechar!
Realmente o amar incondicionalmente tem que supor o amar com pecado, com os nossos defeitos, com as nossas imperfeições e atitudes menos correctas. Ele fá-lo!!
E nós? Obrigada pelo texto.
Um abraço
Mafalda
ora,ora Mafalda....então deus criou-nos livres? Só quem não sabe o que é ser livre pode pensar assim.... ai,ai,ai... a ignorância é uma benção.
um amor condicional? mas Jesus condicionou-se à nossa realidade na Incarnação, condicionou-se na obediência até à morte e pediu várias vezes um "não tornes a pecar".
Ele pediu! claro que nos amou antes desse pedido.. mas é porque nos ama que nos pede para sermos verdadeiramente filhos e não escravos.
no plano horizontal.. para amar o outro (e não sei se isto é assim tão natural que cresça sem esforço) tenho de estar no plano dele: eu pecadora, ele pecador, ambos sujeitos à Misericórdia.
Mas se eu não amo o meu pecado - sinto peso porque vejo como ele me desvia do que desejo ser e como ele fere tantas vezes quem me rodeia - como é que eu posso amar o pecado do outro?
O amor é dos sentimentos mais belos e talvez dos mais difíceis, porque implica partilha, entrega incondicional, dar sem estar à espera de receber. Foi o que Jesus fez, foi o que Jesus pediu, é o que ainda hoje nós cristãos temos tanta dificuldade em cumprir.
Amigo! Exelente reflexão!
Parabéns!
Sem dúvida, uma reflexão legal.
Mas cuidado!
Vocês estão com conceitos, pré-definidos da igreja católica, e usando disso para descaracterizá-la.
Amar o pecador, sem dúvida. É necessário. Ele com o pecado dele.
A idéia de não amar o pecado, é a de não ser a favor dele. Mas de buscar aconselhar a pessoa, a sair daquele mal. Ou Jesus dizia para alguém permanecer em um mal que o pecador estava?
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